Para amar alguém é preciso se amar primeiro.

by - 20:37:00

Sabe aquela sensação de perder, de uma hora pra outra, aquele espaço que gente pensou que ocupava e no final das contas a gente acaba percebendo que na verdade esse espaço nunca existiu? Foi essa sensação que ele deixou. 

Apesar de tudo, da ausência dos últimos dias, da saudade que só ficava na vontade e nunca acontecia, do espaço vazio entre a gente, eu o amava. Amava com toda minha força e coragem pra continuar em algo que já não me fazia tão bem. Amava com toda minha ilusão e fé de que era pra ser ele, porque era mais fácil considerar os poucos instantes que ele me fez rir naturalmente do que os últimos dias que ele me fez chorar. Amava ao ponto de me alimentar com ausência, de aceitar que o hoje ficaria sempre pra depois, que o amanhã talvez não aconteceria, que o encontro teria hora pra acontecer, que a saudade podia se acumular até o próximo final de semana e que o total a pagar disso tudo seria por minha conta. 




Apesar da minha insana insistência de tentar ser importante pra ele na mesma intensidade que ele era importante pra mim, eu o queria. Queria com todo o meu esquecimento de mim, com toda minha displicência de mim mesma e com todo o amor que não me sobrava mais. Apesar disso tudo, eu o esperava. Esperava com toda minha ansiedade e paciência de que ele apareceria, que não seria como da última vez. Esperava com toda minha vontade e meu preparo pra apertá-lo e ouvi-lo mesmo no silêncio que ele fazia, meio que quase me dizendo que não mais me pertencia. Se tivesse que dizer isso olhando nos olhos dele, eu poderia dizer que o amava facilmente, e claro, desastrosamente. 


Apesar de tudo, do prazer que eu tinha de esperá-lo em troca do cansaço em forma de sorriso fechado que ele me trazia, eu o aceitava. Aceitava com toda minha esperança de que ele mudaria, de que um dia - que não fosse a nossa despedida - ele iria finalmente me notar. Apesar de tudo, eu gostava dele. É difícil explicar por que gostar de alguém que não está nem aí pra gente, e que não consegue sentir a diferença entre aparecer pra não se despedir e se despedir pra não aparecer. Eu gostava com todo meu apego que eu não queria acreditar ser, e insistia em acreditar que era amor e não costume porque tanto tempo com alguém não pode ter sido em vão, não é? Tantos momentos e lugares juntos não pode ter sido atoa, ou pode?


Apesar de tudo, de reservar o meu tempo pra falta de tempo dele, de perder tanta coisa com tantas brigas e mensagens desnecessárias, eu o admitia. Admitia com toda bagunça e com tanto peso sem necessidade de carregar por tanto tempo. Admitia com toda minha confiança de que ele, feito disco arranhado que sempre foi, não se repetiria. 
Apesar de tudo e de todo mundo dizer que ele não me fazia bem, que isso estava longe de ser amor, eu não queria acreditar. Acreditava na nossa ligação que já nem tinha tanta conexão assim, mesmo chorando fingia acreditar que sim, que ele valeria a pena. Ele não poderia fazer isso, dizia eu. Apesar de tudo, de deixá-lo conhecer todos os lugares em mim e ter me deixado do lado de fora só pra que ele tivesse mais espaço em mim, eu o queria. Achava o máximo assistir um filme nesses domingos de chuva que ele aparecia e dormir nos braços dele antes que o filme acabasse, porque apesar do peso que eu me tornei pra ele, apesar da pressa que ele tinha de ir embora, eu ainda - toda boba - acreditava que ele me levava às alturas e sonhava pra que ele ficasse só por mais um filme. Depois a gente percebe que ser feliz com tão pouco é um desastre, e age. Pra ser importante pra alguém, a gente precisa encontrar o nosso próprio valor, o amor não é pequeno pra caber numa dispensa  e se alimentar de ausência. Eu nunca repeti tanto na minha vida aquele ditado: pra amar alguém é preciso me amar primeiro.

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