Carta pra quem chegar depois de você.
Quero te pedir que vá devagar comigo, que não venha logo me pedindo pra mudar, me enchendo de cobranças ou dizendo que a culpa da bagunça que me deixaram não é sua. Eu sei bem que não é. Mas pega leve comigo, é que antes de você chegar alguém já passou por aqui e me magoou um bocado. Olha só, se você pretende ficar, não me peça pra mudar, não diga que esse meu jeito meio devagar não te satisfaz. Antes de entrar, saiba que eu ando meio que desconfiando de quem me faz sorrir tão rápido e mais ainda de quem consegue me fisgar com poucos gestos e um jeito natural. Mesmo assim, não alimente as minhas esperanças, não use as minhas fraquezas como motivos pra ficar com você. Não me cobre entrega, por favor, não me cobre presença.
Tô aqui pensando em como vou preencher os espaços vazios que ele deixou, e duvidando bastante se pode ser agora, se você vai conseguir preencher, se vai ter paciência pra suportar esse restinho de bagunça que não consegui pôr no lugar ainda. O problema não é você, o problema é o medo de envolver em você como alguém me envolveu um dia e no final das contas, sumir da minha vida. O problema é fazer com alguém o que me fizeram um dia e repassar uma dor que me causaram pra quem não tem absolutamente nada a ver com isso. Eu não consigo pensar em outra coisa, sabe?
Tô aqui pensando como me entregar sem receio e me doar sem medo algum. Tudo agora é repensado e calculado. Se pensar em te dar flores, terei mil temores pra não fazer isso. Se pensar em te dar um beijo de despedida e gritar no outro lado da rua que você é a mulher da minha vida, pensarei mil vezes e não direi. Se pensar em te abraçar quando você menos esperar, deixarei pra depois e não farei. Se tentar piscar os olhos pra você enquanto cê estiver provando sua roupa e pensar em te dizer: cê é linda de qualquer jeito, menina! Pensarei de novo e desistirei de dizer, só te olharei com um sorriso meio sem graça enquanto você pensa que eu não tô tão afim de você. Eu não quero depender da tua voz pra me acalmar e olhar pra você como se não existissem outras pessoas melhores. Eu não quero porque o cara que eu amo fez uma péssima escolha e eu não perco mais tempo tentando me apaixonar de novo.
Se eu pensar em te ligar mesmo depois de ter acabado de falar com você, eu não ligarei. Se pensar em jogar os meus braços sobre o seu pescoço e encher o teu rosto de beijos, eu não farei, olharei pra você com tamanha vontade de te apertar enquanto decido se vou ou não vou, e acabo não indo. Se pensar em te pedir em namoro de um jeito bacana, um jantar a luz de velas, uma música autoral com violão na beira do mar mesmo sem saber cantar, eu não farei. Tudo isso não vai passar de pensamentos pra te fazer sorrir ao meu lado - e por medo de me abobalhar mais um vez e acontecer tudo de novo -, prefiro não colocar nada em prática. Se eu parecer fria, desinteressada, longe de saber o significado do amor e você me olhar como se não tivesse mais paciência pra continuar comigo, entenda que não é nada com você, é que quem passou por aqui levou tanto de mim que nem sei se posso ser pra você o que você espera que eu seja.
Se eu pensar em te escrever um carta, um bilhete de ''volto já'' ou uma mensagem de bom dia, penso bem e nada mando, me ausento, me tranco, me fecho. Cê vai me elogiar o tempo todo, mas eu vou abaixar a cabeça porque não sei mais lidar muito bem com isso. Você espera um retorno, eu não dou sinal de vida. Não consigo me sentir totalmente confortável, desconheço a reciprocidade. O meu medo faz você pensar que não te quero, e talvez nem queira mesmo, não mergulho por medo de ser areia, não me entrego com medo de ser prisão, não vou com medo de me perder mais uma vez. Eu simplesmente não consigo. Talvez eu não esteja tão afim da relação que você procura. Não quero que você me enxergue como alguém que levará um pouco de você ao voltar pra casa e vai te ligar dizendo que a saudade pediu pra a gente se ver amanhã, e depois, e depois, até que a gente some intermináveis coisas e manias e eu me lembre do teu jeito e dos seus detalhes ao longo do dia. Tudo o que posso te dar agora é um desses beijos molhados com mordidinhas nos lábios, deixando subentendido se continuaremos, sem prometer se te darei o segundo, se ficarei pra te dar o terceiro ou se voltarei prum quarto. Eu não quero ter alguém pra lembrar quando colocar a cabeça no travesseiro ainda, porque quem me fazia dormir bem se tornou um pesadelo. Eu não estou tão empolgado em deitar no chão da tua sala, espalhar minhas roupas pela tua casa, encostar a minha cabeça em teu peito enquanto assistimos uma temporada completa de um seriado qualquer na Netflix. Quando você chegar, quero que saiba que estarei mais disposta a usar você do que morar em você, porque o cara que eu amo fez uma péssima escolha e agora, eu não perco mais o meu tempo tentando me apaixonar por ninguém.
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