Só amor não é suficiente.

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Sabe, menina, amor não é o único ingrediente pra que o resultado seja agradável ao paladar. Existe a cobertura, a cereja e outros ingredientes que compõe a massa de um relacionamento pra que não queime as bordas, não passe do ponto e não amargue o peito. 

Outro dia, ouvi um rapaz dizer: Deixei ela ir embora da forma mais feia que eu poderia deixar, fui um idiota. Concordei com ele, mas logo me perguntei o que poderia ser considerado como a forma mais feia. Enquanto eu observava seu luto cheio de vírgulas intermináveis e me comovia por uma ressaca, que, no mínimo, lhe custaria algumas semanas, continuei a ouvir suas justificativas cheias de culpa. Eu poderia tentar mais uma vez. Eu poderia machucar menos. Poderia respeitar mais do que tentei. Poderia tentar sempre mais, em vez de tentar cada vez menos.
E é por isso que eu digo que um relacionamento não dura só com amor. Se você erra a receita, esquece um ingrediente, troca o açúcar pelo sal e continua misturando pensando que vai ficar gostoso. Eu posso te dizer, com toda certeza do mundo, que o resultado não será nada agradável. Você pode pensar: Mas aqui dentro tem uma boa porção de amor, e explicar o quão recíproco ele é. Mas se o teu erro compromete toda a receita, não adianta acrescentar uma colher de esperança. A massa só cresce, o gosto continua terrível e no final, te falta apetite. Te falta vontade de devorar aquilo. Você joga fora fazendo cara feia o que não conseguiu provar e se culpa por não ter dado certo, além de, culpar o outro, claro. Quero dizer que, você pode seguir todos os passos do que diz a receita, respeitar todos as gramas e chás que tem ali, mas, se você pensa que o amor já é o suficiente, isso se torna a primeira e única justifica pra reatar sempre que você não consegue acertar. E daí, você pode estar jogando todo o seu amor em uma panela furada. Não estou desvalorizando a força do sentimento mais genuíno e corajoso que existe no universo. Mas às vezes é preciso esforço e olhar sem venda. Enfrentar a batalha diária para um relacionamento saudável. É preciso entender que o amor puro, aquele sentimento verdadeiro e único, muda a vida da gente. Renova. Exalta. Acrescenta. Mas sozinho ele não consegue fazer milagre. Se a gente não se dispõe em aceitar, respeitar, dedicar a nossa vida em troca da dedicação do outro, não adianta. A cobertura não vai deixar a pressa e a intolerância da massa ficar mais gostosa. Amor não se resume as ilusões da vida da gente e a gente não se contenta com uma só fatia. Não se justifica um relacionamento apenas com o amor que você sente. Não é interessante reatar um relacionamento só porque você  acredita que amar já basta e acha que será impossível encontrar outra pessoa que possa te amar tanto quanto você amou alguém, ou tanto quanto alguém te fez acreditar que te amava.

A gente aprende com as mágoas, as dores e com os enganos que são pra gente que o amor não é isso. E que estar em um relacionamento é muito mais do que se apaixonar pelo cara que conquistou o teu olhar, que te levou café na cama, que roubou teus beijos, ocupou a tua sala, sequestrou a tua vida, invadiu o teu peito e te preencheu com um pouco dele. 

O amor é o toque final, e a mistura não se resume em bons momentos vivido por dois. Às vezes a gente não desiste do outro porque duvidamos do nosso universo singular, somos medrosos, construímos sonhos e misturamos com promessas bobas, temos receio de renunciar porque é mais fácil acreditar que pode dar certo. A verdade é que somos inseguros quando o assunto é amor. Temos medo de desistir de algo que acreditávamos ser único. Somos ausentes de alternativas quando a escolha é abandonar o barco, descer do veículo, arrumar as malas e partir. Temos medo de ser devorado pela saudade. Medo de ver que aquilo que foi nosso pode ser de outra pessoa. Muitas vezes nos machucamos no final e adiamos a dor pra depois. Duvidamos de nós e acreditamos que não vamos suportar um fim de relacionamento. Tudo exagero. O amor é aquilo que te faz sair de casa pra se desculpar. É o motivo pelo qual você se desfaz do orgulho. É o alvo que te rouba a mira. É a distância que se torna vizinha. É a razão pela qual você doa as chaves do peito, abre a porta sem medo e oferece uma xícara da tua vida com direito a repetição, desde que não queime os dedos e o coração, claro. Amor é a chegada e a partida, mas o amor sozinho, não suporta a passagem. Amor é a paciência, o respeito, o prazer da convivência, a satisfação. Se qualquer um destes tantos ingredientes for descartado, o relacionamento acaba. Acaba porque você não mais reconhece o outro. Acaba porque o amor vira banda de um só em um teatro vazio. Acaba porque a história emudece e não existe trilha que consiga dar jeito.   

Não basta amar, é preciso alimentar o respeito mútuo e aceitar a independência do outro. Não basta ser amado, é preciso cuidar também. Não basta ser poesia é preciso escorrer por toda pele. O amor nos transforma em uma metamorfose ambulante. Amadurece. Fortalece. Revigora. Assumimos que foi amor sim, mesmo que tenha sido perdido, a gente entende que fechar aquela porta e seguir viagem sozinho às vezes é preciso, a partir do momento em que o outro não mais precisa da gente e a gente entente que se tornou um futuro incerto em um presente não mais vivido por dois.  Pro amor, nada se torna desperdício.

O amor vai inserir hiatos nas colocações precipitadas.  Ele vai te dar paciência e vai de dar coragem pra acertar sem receio. Ele vai te fazer pensar antes de escolher machucar o outro. O amor quando pede licença pro peito ele tá pedindo paz e aconchego pra ficar. Se ele é esquecido lá dentro, a reação é bem dolorosa. É melhor dar um adeus com lembranças de um amor bonito, do que ficar e deixar esse adeus se tornar péssimas recordações. Amor é cuidado, o descuido é coisa de principiante. 

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